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  • sexta-feira, 21 de setembro de 2012

    LIVROS E LOMBADAS - Baianas de Acarajé - Comida e Patrimônio no Rio de Janeiro



    Em Baianas de Acarajé - Comida e Patrimônio no Rio de Janeiro, Nina Pinheiro Bitar joga luz sobre temas distantes da academia. Estão ali: o comércio ambulante, a comida de santo, cultura popular, folclore, cultura negra, etc. O livro investiga o 'modus vivendi' das baianas, sua relação com a comida e com o público. Compreendidas as relações, fica fácil entender o registro do 'ofício das baianas do acarajé' como 'patrimônio imaterial' pelo IPHAN. A vida das baianas dá ao livro o calor necessário para que ele não fique parado na estante das teses e dissertações. Suas trajetórias e idiossincrasias aproximam o leitor do precioso tema imposto no livro. Livro para paladares apurados.



    Paulo Almeida

    Jornalista e consultor de comunicação e marketing

    PATRIMÔNIO - Azulejos antigos no Rio de Janeiro

    Azulejos de figura avulsa portugueses, final séc. XIX / séc. XX


    Azulejos franceses, de Pays du Calais, 
    séc. XIX. Rua Teófilo Otoni
    É curioso como só vemos aquilo que queremos ver. Sempre admirei a arquitetura antiga do Rio, mas apenas depois de um curso no mestrado de arqueologia da UFRJ sobre história dos azulejos, e duas temporadas em Portugal, que notei como ainda temos sobrados com belas fachadas de azulejos antigos.

    Este ano comecei um mapeamento dos imóveis do Rio com azulejos em suas fachadas, construídos entre o século XIX e a década de 1910. A pesquisa tem indicado que boa parte dos azulejos antigos daqui não são portugueses, mas sim holandeses. Há ainda azulejos franceses, alemães e, claro, portugueses. Independente da origem, o uso de azulejo em fachadas é tipicamente luso-brasileiro. Aqui, porém, as fachadas são mais extravagantes do que lá.


    Este ano comecei um mapeamento dos imóveis do Rio com azulejos em suas fachadas, construídos entre o século XIX e a década de 1910. A pesquisa tem indicado que boa parte dos azulejos antigos daqui não são portugueses, mas sim holandeses. Há ainda azulejos franceses, alemães e,
    Uso excêntrico de diversos padrões
     em uma única fachada, algo não
     existente em Portugal
     claro, portugueses. Independente da origem, o uso de azulejo em fachadas
    é tipicamente luso-brasileiro. Aqui, porém, as fachadas são mais extravagantes 
    do que lá.

    Se temos ainda este rico patrimônio artístico, devido às décadas de abandono de certas áreas, precisamos estar alertas, pois o Rio está em plena reconstrução, e muita coisa que está por aqui há mais de 100 anos pode desaparecer em alguns dias. É preciso cobrar do poder público uma política de preservação e recuperação deste acervo, que muito nos conta de nós mesmos, e de nossa herança lusitana.



    Para saber mais sobre a pesquisa, acesse
     azulejosantigosrj.blogspot.com.br.



    Fábio Carvalho

    Artista plástico carioca em atividade desde 1994, com mais de 90 exposições no Brasil e exterior, com obras em diversas coleções públicas e privadas.

    ARTIGO - Foram quatro dias de festa ! ... E a festa continua !!!

    ALEXANDRE MORUCCI/DIVULGAÇÃO
    Reginaldo Pereira, ABRE ALAS , 2012
    Objeto de metal com pintura à óleo, 
    melancia e base de madeira.
    Dimensões variadas
    O Rio, envolto em arte, reafirma sua vocação de pólo difusor e consumidor de cultura.

    Agora, temos em novembro, a vinda da ARTIGO Rio Feira de Arte Contemporânea e de seu festival de arte urbana – Artigo Essencial, que vai levar mais de vinte ações a vários lugares da cidade, finalizando a maravilhosa estação cultural que começou com a abertura de grandes exposições, como Giacometti, Antony Gormley, Angelo Venosa e Waltércio Caldas, mostras ao ar livre, como o projeto OiR e Susana Queiroga e culminou com a feira internacional ArtRio, que levou 50 mil pessoas à zona portuária.

    Com o intuito de aumentar a base de consumo de arte no Brasil, a ARTIGO Rio é uma feira que propõe vender obras a partir de R$ 500,00, indo até um preço máximo de R$ 17 mil e reunindo mais de 30 galerias e 300 artistas.  

     Este projeto vem responder ao imenso interesse do carioca em consumir arte, trazendo uma proposta de preços acessíveis e clareza de informações,  democratizando o acesso à arte e cultura.

    Temos que aplaudir os eventos com grandes galerias e obras de arte milionárias, antes só disponíveis em coleções e museus estrangeiros, levando o Rio a figurar no grande circuito internacional de feiras, mas também entender que ações para aumentar a base do mercado de arte são igualmente importantes. Assim poderemos criar um círculo virtuoso, dando aos artistas um mercado estável e amplo, com ambiente para produzir obras cada vez mais intensas, como esta linda escultura de Reginaldo Pereira, a venda na feira, que nos brinda com um pungente sincretismo estético, pleno de brasilidade.


    Artigo Essencial Arte Urbana é um festival de arte que vai tomar conta do Rio em Outubro.



    Alexandre Murucci

    Curador e realizador do festival



    ADIR BOTELHO - Barbárie e espanto em Canudos

    A Canudos descrita por Euclides da Cunha é uma cidade histórica feita de taipa e fé, um sonho religioso e comunitário que congregou milhares de pessoas e se desfez em cinzas. Ela se situava ao lado do rio Vaza-Barris, local de acesso difícil, cercada por serranias no interior do sertão baiano.

    Já a Canudos de Adir Botelho se situa num local de acesso ainda mais difícil. Para entrar nela não se faz qualquer esforço físico, mas é necessário um esforço de outro tipo, muito mais sutil - o esforço da imaginação.

    Diante das 120 xilogravuras expostas que compõem a série Canudos, desenvolvida em 20 anos consecutivos de trabalho e publicada pela EBA/UFRJ, em 2002, veremos que não se trata de uma tradução literal daquela guerra. Na verdade, o que se percebe é que o autor desta série quis recriar Canudos de um ponto de vista novo, que fosse pessoal e capaz de alcançar a universalidade. Sua principal inspiração foi a obra de Euclides da Cunha, Os Sertões, mas sua principal ferramenta de trabalho não foram suas goivas e sim sua rica imaginação baseada numa sensibilidade expressionista, que deu forma inquietante ao caos daquela guerra através de uma técnica xilográfica irrepreensível.

    ADIR BOTELHO. Canudos, xilogravura, 37,5 X 50,5 cm, 1985.
    Acervo do MNBA. 
    Com isso, Adir Botelho faz de cada gravura um ser único, dotando-a de uma visualidade formalista e de claras referências à linguagem da Arte Popular e ao Realismo Fantástico, o que propicia uma nova dimensão aos acontecimentos: forte denuncia da tragédia da guerra com um marcante toque de ironia. 

    Profunda contundência, no entanto, suas xilogravuras alcançam quando tratam mais especificamente das crueldades que foram perpetradas tanto por jagunços quanto por soldados. Nestas gravuras, Adir Botelho cria cenas de horror, mas, paradoxalmente, repletas de beleza plástica, capazes de atingir intensamente nossa emoção através do aspecto estético.

    Enfim, o visitante da exposição sentirá uma profunda emoção ao se defrontar com imagens originais, poderosas e mobilizadoras de nossos sentimentos mais recônditos, pois será tocado por um tipo de beleza que não é a da linguagem clara e objetiva do consciente, mas a da linguagem da arte que vive no subconsciente, todavia, conduzida pela experiência sólida de um artista plenamente senhor de seus meios e técnicas.

    Mas para bem seguir este caminho e sentir esta emoção, voltando ao princípio deste texto, necessário se fará trilhá-lo pelo viés da imaginação, vendo cada xilogravura como uma porta diferenciada para penetrar no estranho e trágico universo de Canudos.


    ADIR BOTELHO – BARBÁRIE E ESPANTO EM CANUDOS,
    Xilogravuras e desenhos da coleção do MNBA – 17/09 a 11/11 de 2012 
    Galeria 3 da CAIXA CULTURAL RJ



    Ricardo A. B. Pereira

    Artista plástico, professor e mestre em Artes Visuais (História e Crítica da Arte) pela
    EBA/UFRJ.

    TRADIÇÃO - Baiana Contemporânea

                                                                     RAIMUNDO RODRIGUEZ/DIVULGAÇÃO
    Sonia Maria Menezes Pinto, Baiana do Acarajé


    O que é que a baiana tem? cantava Dorival Caymmi numa bela canção. Seu nome completo : Sonia  Maria Menezes Pinto, 64 anos. Baiana de Salvador, nascida no bairro da Liberdade, de pais sergipanos. Desde 1990 vive no Rio. "Comecei em Mesquita e fui a primeira baiana com meu tabuleiro na praça principal ".

    Segundo o artista plástico Raimundo Rodriguez ela é " uma baiana contemporânea e seu acarajé transcendental ". " Sempre tive um sonho : representar a minha cultura através da gastronomia, especialmente o acarajé ". Filha de Yansã e Xangô, dois orixás fortes, batalhadores e vencedores. " Trabalho no Centro Histórico ( feira do Lavradio ) e Polo da região portuária, sou a baiana das rodas de samba da Pedra do Sal ". Com uma energia contagiante, ela cativa a todos com seu carisma e alto poder de afeto. "Amo de paixão o que faço... são muitos amigos, clientes fiéis ". E sobre paixão : " só fica o que presta, quando balanço". E cai na risada, uma risada gostosa, de quem sabe das coisas !

    Numa tese de mestrado Baianas de Acarajé (comida e patrimônio no Rio de Janeiro de Nina Pinheiro Bitar), logo na primeira página nos deparamos com sua foto. "Minha fé é que me mantém em pé. Independe da idade, a cabeça funcionando, ocupando com coisas saudáveis, fazendo o que gosto, a mente ligada nos saberes e sabores".

    Ativista, feminista, atuante, guerreira : assim é Sonia Baiana !



    Jorge Salomão

    Poeta