A Caza

Há pouco mais de um ano inaugurava no Rio de Janeiro um novo conceito de galeria que pretendia acolher o público e os artistas de forma que todos se sentissem em casa.

A partir desse conceito de aproximação e acolhimento afetivo - o inverso do que se nota comumente nas galerias de arte de todo o mundo, frias e ascéticas, o artista plástico Raimundo Rodriguez, conseguiu reunir alguns dos artistas mais talentosos e promissores do cenário carioca, fundando a galeria CAZA Arte Contemporânea, no número 52 na Rua do Resende no bairro boêmio da Lapa.

Inúmeras exposições coletivas foram então organizadas mensalmente, sob uma ótica pluralista, num espaço que proporcionou um novo tipo de visibilidade e projeção a diversos artistas, alguns mais experientes, outros menos, e muitos já consagrados, mostrando ser possível a elaboração de um circuito alternativo capaz de manter um alto nível estético, a seriedade e o profissionalismo.

Citando alguns exemplos das inúmeras exposições realizadas na galeria CAZA, poder-se-ia descrever grandes coletivas como: “Salve São Jorge 3ª edição”, que chegou a reunir mais de cem artistas e que lembrou as exposições organizadas na extinta galeria Espaço Imaginário, “Um princípio de delicadeza”, cuja abordagem das expositoras deu um tom feminino à temática proposta e “CorLaborAção”, exposição coletiva que agregou artistas da galeria CAZA e da galeria Cosmocopa, revelando mais um atributo incomum no meio de arte estabelecido: a capacidade de agregar artistas de diferentes linguagens criando um clima único de confraternização e…colaboração.

A última coletiva intitulada “Afinidades” reafirmou a construção de uma rede de artistas que compartilham os mesmos interesses, embora inseridos em pesquisas estéticas diversas e que atuam coletivamente em orquestrada sintonia.

Das exposições individuais vale lembrar-se de belíssimas montagens como: “Obras Inéditas” de Raimundo Rodriguez, “Pintura no país das maravilhas” de Juliano Guilherme, “Retratos” de Clarissa Campello, entre outras.

Há pouco mais de um ano, justamente naquele momento, a vitrine da CAZA já anunciava um movimento constante, permanente e sem direção estabelecida. Cineticamente a vitrine da CAZA, composta de um sistema complexo de engrenagens, parecia apontar o destino da própria galeria: movimentar-se através de engrenagens imaginárias rumo ao espaço imaterial.

A partir desse novo e contínuo conceito é que se deve pensar o movimento engenhoso outrora anunciado. A galeria CAZA fecha suas portas físicas para se abrir em um novo contexto, aproveitando as raízes que foram construídas ao longo de um ano de sucesso e experiências múltiplas.

Em seu novo formato, para além da um ponto físico, serão conservados seus endereços virtuais como o blog da CAZA, que permanecerá ativo e atualizado e seu perfil do facebook cuja tarefa principal é continuar agregando artistas e público interessado em artes visuais, além de informar sobre as últimas exposições que continuarão ocorrendo em formato itinerante.

Desta forma, a galeria CAZA passa a fixar residência na memória afetiva e no terreno imaterial da virtualidade, mantendo suas características de inclusão de artistas talentosos de diversas gerações, além de manter uma curadoria própria, única, diferenciada, pautada na ideia do acolhimento de uma casa coletiva, que pode ser estendida em diferentes níveis.

Esta não é propriamente uma despedida senão a afirmação da permanência em um espaço virtual: a casa continua se movendo e faz mover criando ainda mais raízes.


Renata Gesomino
11/03/12


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