sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

ARTE E CENOGRAFIA - O que resta do invisível

                                        TATIANA FARACHE
Cenário de Anderson Dias para a peça Ifigênia em Áulis.

Um dia nasceu da terra. Um dia despertou do sono das coisas plantadas. Um dia abriu suas janelas e ainda com areia entre os dedos lavou o rosto. Um dia foi lhe apresentado, com honras, o invisível. Um dia entendeu o que sobra dele  e nesse exato momento fez poesia.

Poesia de coisa, poesia que dispensa palavra e dança com as rimas do espaço. Que faz matéria bruta das figuras de linguagem: brinca de metáfora,  quando pinga aço dizendo em letras pequenas que é papel, respira metonímia dizendo  às  porcas e aos parafusos que juntos são homens. Já  as hipérboles desfilam, em passos pequenos ,  estranhamente delicadas, são  flores espalhadas pelo palco que quase flutuam, tão pequenas e de sentido tão grande.

Estes  são os versos do artista e cenógrafo Anderson Dias, todos eles  recitados em silêncio, todos  compreendendo o vazio e sua capacidade de preencher espaços. É o artista pensando o espaço cênico, criando volumes, experimentando texturas, pincelando cores nos lugares certos. É o cenógrafo pensando arte, dando ossos ás carnes,  estruturas para as coisas serem o que devem ser. Portas , janelas, varandas, geladeiras e se necessário até a corda para o enforcado que volta e meia aparece em roteiros trágicos.

Os cenários de Anderson  são discursos sem palavras. Linguagem muda. Conta a história nos detalhes. Não são apenas lugares hipotéticos onde a cena se passa, ele é a cena. Faz parte dela do início ao fim, é ativo, transpirante, se necessário  se despedaça e renasce a cada espetáculo ou então, permanece perene se assim o dialogo estabelece.

Poeta que um dia nasceu artista e que no outro despertou cenógrafo, Anderson Dias guarda as qualidades de todos esses delicados e transformadores fazeres.


Sabrina Travençolo

Cientista Social e integrante do Grupo Garrucha

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