sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O ARTISTA COMO AGENTE DE REFLEXAO

Quanto custa uma obra de arte? Quanto vale uma obra de arte? O que é uma obra de arte? Com essas perguntas impressas em notas originais de dinheiro sem uso Raimundo Rodriguez, em uma entre tantas ações do Imaginário Periférico, propunha instigar o público a uma reflexão sobre o estado da obra de arte e, por consequência, o próprio estado da arte. Essas suas notas também puderam ser adquiridas na ARTIGO Feira de Arte do Rio no espaço ali rematerializado da CAZA Contemporânea. Aliás, um ponto interessante nessa feira foram as obras de artistas que traziam questionamentos sobre o mercado de arte e a relevância da obra de arte como matéria de consumo. Além das notas questionadoras isso também pode ser visto com o Projeto do Coletivo Filé de Peixe, cm², que reuniu um painel de diversos artistas com um centímetro quadrado de suas obras que foram a leilão em cada dia de feira. 



Diversos artistas diversos valores. E justamente estava em jogo a valorização de cada um, pois o mercado deixa sempre claro o seu apreço pela reputação do artista. Afinal, para saber quanto custa uma obra de arte é preciso saber quanto tem de mérito o artista que a produziu.

Esses momentos em que éramos tirados do eixo consumista e trazidos a reflexões de outra ordem encontramos em muitas obras espalhadas pela feira como a de Marcio Zardo em seu Artista Arrisca, Marcelo Oliveira com Lava-Jato ou Ivar Rocha e seu Rio de Paes, para citar alguns que falavam diretamente, sem rodeios, sobre aspectos relacionais da arte e seu entorno. Algo de muito salutar e que não passou despercebido foi o Artéria Art Projects, um stand inovador que trouxe para a feira artistas fora do circuito comercial, isto é, que não fazem parte de nenhum elenco de galeria e que encontraram lá o local propício para divulgar sua produção com chances iguais de venda, outra ideia renovadora de Alexandre Murucci, produtor da feira que, com sua atitude, nos fez pensar sobre quanto vale uma obra de arte, posto que, diferentemente do seu custo, temos que ponderar sua pertinência no processo histórico da arte.

Ainda trazendo ecos dessa mesma iniciativa empreendedora, houve projetos que se destacaram pela ousadia que apresentaram. O São Jorge de Raimundo Rodriguez e o Carrinho de Pipoca de Deneir Martins que recebiam o público em uma das entradas da feira com aquele jeito maroto pop e popular em contato direto com todos, tanto quanto Heleno Bernardi e Fernando de la Rocque que propunham uma imersão na obra, herança de nossa escola neoconcreta, eram propostas que se situavam na qualidade única de serem absorvidas de imediato pelos olhos ávidos dos passantes capturados por essa singular propriedade que tem a obra de arte de exultar. Como já disse Frederico Morais, arte é o que eu e você chamamos arte. Portanto, viva você, viva eu, viva a arte.



Osvaldo Carvalho

Artista visual, mestre em poéticas visuais pela ECA-USP, curador independente e sócio do Espaço Eu Vira

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