sexta-feira, 9 de novembro de 2012

EXPOSIÇÃO - O artista como agente de transformação




A efervescência em que se encontra a arte no Rio de Janeiro é ímpar não apenas no que se refere ao seu aspecto mercadológico, mas também quanto à formação de frentes alternativas ao seu tradicional conceito de, digamos, divisões de tarefas. Para que fique bem entendido, a especialização no meio artístico sempre posicionou distintamente seus agentes entre aqueles que produzem, os artistas, aqueles que vedem, os galeristas, marchands, art dealers/advisors, etc. e aqueles que formam opiniões, críticos, curadores, historiadores, entre outros. Entretanto, um fenômeno cada vez mais pontual é a presença de artistas em atividades que não meramente a produção de sua obra. Não raro são os casos em que temos artistas curadores, galeristas, pesquisadores. Isso não é por acaso. O artista de hoje busca se aprofundar, conhecendo do seu ofício não só a fatura. Muitos, além da graduação, estão de volta às universidades para pós-graduações; são mestres, doutores, ou ainda professores com uma particularidade: estiveram ou estão na linha de frente das ações artísticas, travaram ou travam o verdadeiro embate corporal diante da criação. Por consequência, abrem-se horizontes de autonomia que lhes permitem transitar em territórios cujas fronteiras simplesmente vão-se diluindo pouco a pouco. Já vai longe o tempo em que artista ficava recolhido em seu ateliê à espera de sua musa. O discurso de que artista não se representa está ficando desbotado e ultrapassado. Isolamento, definitivamente, não está mais para o vocabulário do artista contemporâneo.


Diversos são os sinais de mudança que vemos surgir na cena carioca das artes visuais, por exemplo. Circuitos independentes e com agenda definida estão se formando com força e eficácia como é o caso do Circuito Oriente em Santa Teresa composto de espaços que abrigam não apenas mostras particularizadas de seus integrantes, ao contrário, apresentam em exposições diversificadas tanto novos quanto já estabelecidos artistas em sua programação. Esta página de jornal mesmo é uma ramificação do projeto CAZA Arte Contemporânea que inicialmente ocupava um espaço físico no centro da cidade e que hoje tem múltiplos desdobramentos. A galeria Cosmocopa Arte Contemporânea, em Copacabana, a qual possui entre seus sócios dois artistas que, além de donos, fazem parte do seu elenco, é outro diferencial que se apresenta. E o mais significativo sinal de mudança que vejo é a ARTIGO Rio Feira de Arte Contemporânea toda concebida por um artista visual, hoje dito visionário, mas que é na verdade um desbravador, e que leva consigo a responsabilidade de abrir novos caminhos em toda a complexa transformação por que passa o sistema das 
artes.

Ainda há muito por vir, ver e vencer, porém a cada novo desafio aceito, o artista se distancia exatamente da acomodação e do determinismo de velhos fundamentos e amplia sua contribuição para mexer com os neurônios dos conservadores.

Fotos: Obras de Julio Ferreira Sekiguchi, Roberto Tavares e Osvaldo Carvalho



Osvaldo Carvalho

Artista visual, mestre em poéticas visuais pela ECA-USP e curador independente

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