DIVULGAÇÃO
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Obra de Pedro Varela |
Ao se delinear critérios que deverão ser aplicados na conceituação de uma exposição de arte se lida com uma variável aleatória no que tange ao mérito criativo de cada artista que irá compor o conjunto da mostra a ser apresentada. Para esta mostra o paradigma parecia bem simples e direto porque falaria da gravura e suas técnicas. Contudo, o que a presente montagem nos traz são meandros muito mais engenhosos e articulados que se pautam em reflexões aprofundadas não pelo viés do manuseio instrumental, mas pela tenaz investigação crítica do artista e o seu lugar de pertencimento social.
Os trabalhos apresentados, longe de destacarem assimetrias, revelam diálogos prodigiosos em instâncias talhadas pelas questões concernentes à própria contemporaneidade as quais corporificam como veios naturais de suas faturas. É, a propósito, o que vemos nas obras de Marcelo Oliveira e João Moura ao descreverem cenas do cotidiano urbano sob o olhar de uma lupa que coloca em evidência o banal e o corriqueiro em um sarcasmo fugaz. Acentuando o caráter efusivo da acumulação e da repetição dados pertinentes de longa prática investigativa nas artes visuais, encontramos na cidade digital de Pedro Varela e no cordel de Gian Shimada, saturados de ironia, o desejo de ter, enquanto que Alexandre Alves em suas repetidas acumulações nos apresenta um emaranhado óptico de fragmentos/interrupções tal e qual se dão nas relações fugidias de nosso cotidiano. Esse núcleo de artistas traz então uma abertura contextual em que se desenrolam os trabalhos de Julio Castro e Roberto Tavares como indicativos do eixo Artista – Cidade em que uma subjetiva entropia formal é o germe da contínua reconfiguração do espaço e do tempo que eles manifestam de maneira contundente e incontornável. Confirmam essa máxima as obras de Lea Soibelman, Paulo Jorge Gonçalves e Karla Gravina, porém como uma tríade em que temos Artista – Cidade – Corpo.
O desvio padrão em estatística trata de dispersão. Talvez seja esta uma das razões por que pouca coisa fique ou se entenda, como se costuma ouvir, de uma exposição de arte contemporânea. Talvez fosse o caso de se explicar que essa arte é a arte dos nossos dias, como os artistas veem e tratam dos temas de sua época. Talvez seja preciso encarar o fato de que da dispersão vivemos. Talvez tenhamos que entender que arte não é mais linguagem, e sim forma de pensamento.
DESVIO PADRÃO
GALERIA DE ARTE MENINOS DE LUZ
Rua Saint Roman, 146 – COPACABANA – RJ
Telefone para contato 2522-9524
de 24 de agosto a 6 de outubro
quarta a sexta das 15 às 19h sábado das 13 às 17h
Mestre em Poéticas Visuais pela ECA-USP, artista visual e curador independente
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