sexta-feira, 13 de julho de 2012

LONGE DE CAZA - 4 dias em Manaus

É curioso como a gente cria fantasias sobre locais no qual nunca esteve. E quando lá se vai, o choque de realidade é pesado, e um pouco perturbador. E foi assim quando recentemente estive em Manaus.

Já do aeroporto para o centro da cidade, o primeiro tabefe de realidade. Trânsito lento às 00h30 ­ engarrafamento? Em Manaus? A esta HORA? E ao longo dos dias que lá passei, foi uma sucessão de descobertas e espantos. Eu me sentia "gringo" em pleno Brasil.

Fábio Carvalho, "Arraial em Manaus - no.1", 2012

Não esperava tantos prédios altos, avenidas largas, caos, trânsito excessivo, cheiro de escapamento no ar, centenas de barraquinhas precárias vendendo comida e tranqueiras por todas as vias principais, muita barulheira na cidade desde 6h, tantos avisos para tomar cuidado com assalto e violência urbana ­ não ande ali, não vá por aqui, não passe por lá!

Mas por outro lado, encontrei uma gente com uma outra fisionomia, diferente de tudo o que eu já conhecia, uma gente que sorri francamente, sem reservas, receptiva, aberta, sem pé atrás, que te trata de uma forma natural, sem pose, sem arrogância, sem desconfiança.

Uma gente que não tem medo de cobrir com cores fortes suas casas e seus corpos. Uma gente que sabe se divertir num arraial com roda gigante, barraquinhas de pescaria e tiro ao alvo, lotadas de prendas com colorido vibrante, muita comida exuberante. Uma gente que não perde a animação e a alegria mesmo no calor abafado em pleno inverno. Isso sem falar que a cidade é repleta de preciosidades arquitetônicas construídas no ciclo da borracha, atualmente recuperadas ou em processo de restauração.

E se a cidade é desprovida de uma cena de arte contemporânea, por outro lado Manaus é, para o bem e para o mal, uma experiência intensa para quem souber aproveitar. E num local assim, eu só posso esperar que surjam artistas e obras vigorosas, pulsantes, cheias de contrastes em relação ao que estamos acostumados por aqui.

Como o trabalho de Rodrigo Braga, artista nascido em Manaus, mas crescido em Recife, que me contou que infelizmente não são muitos os artistas manauaras que conseguem superar a falta de informação e o isolamento em Manaus. Mas como apostas, ele me indicou: Roberto Evangelista (único artista morador de Manaus na exposição Amazônia do CCBB/RJ), Cristóvão Coutinho (curador por 9 anos da galeria da UFAM) e Alberto César Araújo. Tenho certeza que há mais artistas, esperando apenas que nós os conheçamos.


Fábio Carvalho
Artista plástico carioca em atividade desde 1994, com mais de 90 exposições no Brasil e exterior, com obras em diversas coleções públicas e privadas.


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