sexta-feira, 13 de julho de 2012

EXPOSIÇÃO - Coletiva da CAZA no café Baroni: entre desenhos, gravuras e fotografias.

Em meio a mesas e cadeiras cercadas por algumas espadas de São-Jorge que decoram o local emergem paredes brancas que se fundem perfeitamente com a totalidade de um ambiente com múltiplas funções. Nessas mesmas paredes, que ora funcionam como corredores, ora como suporte de obras de arte em pequenos formatos, cerca de 30 trabalhos foram distribuídos, compondo a exposição coletiva dos artistas da galeria CAZA arte contemporânea.

Inaugurada no dia 18 de junho, no Café Baroni, situado no térreo do prédio da Bolsa de Valores, no centro do Rio de Janeiro, a mostra conta com uma grande variedade de obras, e com uma rica diversificação técnica. É possível encontrar gravuras, desenhos, fotomontagens, colagens e fotografias, que agregam ao ambiente, uma função cultural que o destaca dos demais cafés cariocas.

O espaço acolhedor e recreativo do Café Baroni, oferece a possibilidade de contemplação de obras de arte em meio ao ambiente austero do mundo dos negócios, facilitando a integração entre arte e público de maneira espontânea. Obras de artistas de várias gerações, experientes e consagrados definem o perfil heterogêneo da mostra, são eles: America Cupello, Cláudio Gil, Fabiano Devide, Fábio Carvalho, Ísis Quaresma, Leonardo Etero, Lucenne Cruz, Marcelo Lago, Marcelo Oliveira, Marcia Rosa, Mirela Luz, Nilton Pinho e Rosane Chonchol.

A exposição no Café Baroni também pode ser vista no 360 feito pela Vídeopontocom
cazaartecontemporanea.blogspot.com

Com uma série de trabalhos que não excedem o tamanho A3, o que pode ser visto na coletiva da CAZA, é um conjunto de obras em papel, que fazem referência ao universo plástico da gravura, pintura e desenho, em princípio. Esse é o caso, por exemplo, das pinturas produzidas por Nilton Pinho, que fazem uma alusão à história da arte conceitual e da Pop arte, através dos retratos de Joseph Beuys e de Andy Warhol, respectivamente. Da mesma maneira, pode-se observar a presença de cores harmônicas retiradas do material lúdico que é o lápis-de-cor. A partir da criação abstrata de formas orgânicas multicoloridas, porém preservando uma delicada transparência, a artista plástica Ísis Quaresma, dá a sua contribuição à mostra.

Rosane Chonchol é outra artista que, diferentemente da delicadeza apontada na harmonia de cores e formas arredondadas de Isis Quaresma, desenvolve uma pintura que, de certa maneira, dialoga com as obras de alguns artistas ligados às vanguardas estéticas do século XX, como Willem De Kooning e o grupo COBRA, apostando em traços e cores muito expressivas, quase primitivistas, que compõem a imagem de uma mulher enigmática.

Um clima caótico-urbano é encontrado nas gravuras feitas de aquarela, caneta esferográfica azul, colagem e nanquim, de Leonardo Etero. Entre carros voadores, que se perdem no vazio do branco sem perspectiva do papel, fita-se a imagem central de um caminhão que despeja num movimento onírico arrebatador, bobinas prateadas, formando um irônico “bem tombado”.

No âmbito da caligrafia, um destaque especial para as duas obras do artista Cláudio Gil, que com extrema elegância constrói uma trama complexa formada a partir da sobreposição de letras e frases quase ilegíveis, desencadeadoras de um emaranhado de linhas rápidas e precisas.

Na obra, “Situação Delicada – nº 9”, de Fábio Carvalho, é possível contemplar uma série de imagens produzidas pelo artista em que a figura central de um revolver de brinquedo, (um clássico modelo Smith & Wesson) contrasta com uma espécie de moldura vitoriana, impressa a laser. Por fim, uma especial atenção deve ser dada ao trabalho em fotografia da conceituada artista visual America Cupello. Obtendo um resultado muito próximo de uma estética noir, típica dos filmes de suspense dos anos 30, a imagem exposta na coletiva do Café Boroni (que também faz parte do acervo do CCBB carioca), é formada por uma composição em que cinco garfos, com seus dentes expressivamente entortados, repousam soturnos sobre um prato. Esta imagem final alcança uma rara dramaticidade envolta em certa estranheza, e que sugere também, a utilização de um referencial pós-moderno, como os elementos misteriosos e as ambiências sombrias encontradas nas fotografias dos filmes de Tim Burton, por exemplo.

A coletiva da CAZA arte contemporânea pode ser vista nos horários de funcionamento do Café Baroni, Edifício da Bolsa de Valores, Praça XV de Novembro, 20, Centro.


Renata Gesomino
Crítica de arte e curadora independente, doutoranda pelo PPGAV-UFRJ


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