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  • sexta-feira, 28 de setembro de 2012

    EXPOSIÇÃO - Livro Aberto


    O trabalho da artista paulistana Teresa Berlinck privilegia sistemas de referência. Em seus desenhos, esculturas e instalações, a artista elabora uma rede de associações, conotações e diferentes níveis de significado que desestabilizam estruturas narrativas convencionais e lineares.

    A exposição Livro Aberto reúne trabalhos recentes que têm o livro como meio comum, articulando fragmentos da memória e a transitoriedade dos sentidos.


    Livro Aberto de Teresa Berlinck 

    Dia 29 de Setembro, às 15h. Até 27 de Outubro, de Segunda à Sábado, das 10h às 18h.
    Galeria Coleção de Arte, Praia do Flamengo, 278, térreo. Rio de Janeiro, 21 2551 0641.


    ARTIGO - Ver o Rio com olhos de Gringo !!!

    Grandes exposições de arte urbana movimentaram a cidade.

    Sejam os homens sentinelas no alto dos prédios, seja a Iemanjá multicultural pousada solene nas águas, tudo é deleite aos olhos.

    Nelas, não só a plasticidade das obras que os artistas trazem,  nos servem de reflexão.
    Nós cariocas, tão apaixonados pela beleza infinda de nossa cidade, muitas vezes, passamos por ela com olhos nublados, 

    imersos na banalidade de nosso dia a dia e nas mazelas comuns das grandes metrópoles.
    De certo, a beleza estonteante de cartão postal parece desculpar todo o descaso, mas ao quebrar o ritmo do cotidiano 

    com sua presença inusitada, uma obra de arte sob o sol, generosa para todas as platéias, nos faz retornar uma percepção 

    de como somos abençoados. Por isso, quando vemos uma inesperada escultura flutuando na praia cinzenta de nossa bela baía, talvez possamos lembrar, que um dia aquelas águas já foram azuis e salubres.

    E este olhar renovado, igual ao deslumbre inicial que todo turista derrama sobre o Rio, nos clama por cuidar, lutar e cobrar pela preservação de nossa natureza ímpar.

    Precisamos não nos acostumar com o esplendor que nos cerca.  Considerá-lo banal e eterno, nos impede de lutarmos por ele.

    Temos que olhar o Rio com o olhar estrangeiro, embevecido !  

    E projetos de arte pública podem nos fazer acordar.

    Aproveitem os últimos dias das mostras que nos brindam e alegrem-se,  pois em breve outro festival de arte urbana estará chegando.  

    Em outubro, o ARTIGO ESSENCIAL ARTE URBANA vai encher os olhos do Rio.  Olhares gringos e nativos !  Aguardem !



    Alexandre Murucci 

    Curador e realizador do festival

    PRIMEIRA EDIÇÃO - Projeto “Fala de Artista”, com Raimundo Rodriguez

                                            SANDRA MORAES/DIVUGAÇÃO
    Raimundo Rodriguez na instalação Sonhos na Galeria 90 Arte Contemporânea em 2007

    No bairro Santa Teresa no Rio existe um novo espaço para Arte Contemporânea: o “Espaço Eu Vira”, que atualmente recebe a Exposição “Casa”. A exposição conta com os seis artistas que coordenam o Espaço: Marco Antônio Portela, Osvaldo Carvalho, Leonardo Ramadinha, Bruno Veiga, Rogério Reis e Greice Rosa, além de Raimundo Rodriguez que participa como convidado especial. E é exatamente com este artista que temos o privilégio de inaugurar o projeto “Fala de Artista”, um bate-papo, uma ação poética, lúdica, intimista, onde o artista fala do seu processo criativo e de sua obra. Importante ouvirmos as falas porque elas por vezes esclarecem questões, nos localizam, ajudam compreender um pouco mais a complexidade do fazer artístico, um ato muitas vezes solitário.

    Raimundo Rodriguez, um homem do seu tempo, que usa como matéria criativa aquilo que se apresenta pela frente, um procedimento verdadeiro de integração da arte com a vida, empregando materiais nobres ao lado de materiais vulgares.  Em sua trajetória, Raimundo abre a “Caza Arte Contemporânea”, espaço de circulação da arte semelhante ao “Espaço Eu Vira”, expandindo seu campo de atuação até uma página de jornal com circulação periódica, toda sexta-feira, levando a “Caza” a atuar por vários formatos e suportes.  Raimundo atuou também nas iniciativas do Coletivo Imaginário Periférico, dentre outros projetos.  Enfim, um artista que tem o que falar! Generosamente, Raimundo vai nos presentear com sua vivência e relatos do seu fazer artístico.
    Projeto Fala de Artista. Dia 29 de Setembro, às 19h.
    Espaço Eu Vira, Rua Aarão Reis, 16 A. Santa Teresa.



    Artista Visual, Curadora independente, Sócia do Espaço Eu Vira, Diretora Artística do Ateliê da Imagem.

    HISTÓRIA - 185 anos de cultura e artes plásticas no Jornal do Commercio.


    Há algumas maneiras de se entender os fatos históricos, umas delas é considerar uma cadeia de eventos que podem estar interligados de maneira subjetiva a outra é isolá-los em sua própria irreversibilidade de forma determinante.
    Em 1827 em pleno século XIX, começavam a circular em todo Brasil as primeiras publicações do Jornal do Commercio. Fatos que poderiam ser reduzidos à mera constatação, entretanto, o que se propõe nessas breves linhas é realizar uma viagem celebrativa em meio a esses 185 anos, analisando a importância do periódico – Jornal do Commercio, juntamente com os principais acontecimentos históricos que marcaram o panorama das artes plásticas no Brasil.
    O fim do século XIX foi marcado pelo desenvolvimento de um sistema acadêmico e a construção de um imaginário nacional (em progresso até os dias de hoje e discutido como questão de identidade), que desempenhou um papel político fundamental na elaboração de uma imagem coerente para a nação emergente. Era a época dos grandes quadros históricos tão bem representados por Vítor Meireles na “Batalha dos Guararapes”, e por Pedro Américo em “A batalha do Avaí” e da nascente crítica de arte profundamente atenta e vivaz de Gonzaga Duque. 
    Nas páginas do Jornal do Commercio personalidades ilustres como Machado de Assis, Euclides da Cunha, José de Alencar entre outros, realizavam participações que enriqueceram o dia-dia dos brasileiros. Nesse tocante, as artes plásticas e a literatura continuaram a caminhar lado-a-lado na alvorada do século XX, e o periódico pôde testemunhar o desenvolvimento do modernismo no Brasil através dos importantes eventos ocorridos na semana de Arte Moderna de 1922. Apesar de a Semana ter se concentrado num grupo de artistas e intelectuais oriundos de São Paulo, sua contribuição possibilitou a disseminação das ideias modernas, além de uma ruptura com o academismo do século anterior.
    Em meados dos anos 60, outras mudanças sacudiriam o panorama das artes plásticas no Brasil. Notórios eventos políticos como a renúncia de Jânio Quadros e a consequente posse de João Goulart resultaram no Golpe Militar de 1964. Como resultado da repressão, censura e autoritarismo impostos pela ditadura militar, o campo das artes plásticas reagiu de duas formas: A primeira delas diz respeito a um comportamento mais conformista responsável por produzir uma revisitação à arte tradicional, e o segundo, diz respeito à adoção do binômio arte e vida. 
    Mais do que nunca, a arte praticada no período funcionou como mecanismo de crítica sociopolítica e ferramenta de libertação. Essa desmaterialização da forma ganhou no Brasil contornos engajados que assinalaram o deslocamento da estética para o discurso político. Obras importantes como o “Porco empalhado” de 1966 de Nelson Leirner e a mostra Opinião 65, sacramentaram a busca por liberdade de expressão durante o tenso período.
    Por volta de 1984, é realizada no Rio de Janeiro, Escola de Artes Visuais do Parque Lage a exposição “Como vai você, geração 80”, assinalando a reabertura política através do movimento “Diretas já”. Este evento ficaria caracterizado através de uma retomada da pintura como uma grande manifestação de liberdade e ludismo. Paralelamente, é preciso salientar a importante colaboração de críticos de renome como Walmir Ayala, para as páginas do Jornal do Commercio com a coluna “Artes Plásticas”, publicada desde o final da década de 70 até o início dos anos 90. O crítico, que sempre foi um agente importante na divulgação do caldo cultural formado nas periferias do Rio de Janeiro, certamente ficaria entusiasmado com as ações coletivas e com as intervenções urbanas realizadas pelo Imaginário Periférico na primeira década do século XXI. Além do mais, é experimentando os reflexos do pós-modernismo que se pode perceber a diversidade e riqueza de linguagens e poéticas que se desenvolvem simultaneamente no contexto atual. Grande parte dos artistas que participaram em algum momento desse movimento contagiante que se tornou o coletivo encontra-se, vez por outra, reunida em matérias que são semanalmente publicadas na página da CAZA do jornal do Commercio. Nestes 185 anos de existência, o jornal abre espaço para que essas manifestações possam aflorar, levando ao público em geral informações preciosas sobre as pesquisas estéticas mais recentes desenvolvidas em toda parte da cidade: centro, periferia, etc. E nesta longa jornada, o campo das artes plásticas brasileiro é que permanece ganhando.

    Renata Gesomino.

    Doutoranda pelo PPGAV-UFRJ, crítica de arte e curadora independente.