sexta-feira, 28 de setembro de 2012

HISTÓRIA - 185 anos de cultura e artes plásticas no Jornal do Commercio.


Há algumas maneiras de se entender os fatos históricos, umas delas é considerar uma cadeia de eventos que podem estar interligados de maneira subjetiva a outra é isolá-los em sua própria irreversibilidade de forma determinante.
Em 1827 em pleno século XIX, começavam a circular em todo Brasil as primeiras publicações do Jornal do Commercio. Fatos que poderiam ser reduzidos à mera constatação, entretanto, o que se propõe nessas breves linhas é realizar uma viagem celebrativa em meio a esses 185 anos, analisando a importância do periódico – Jornal do Commercio, juntamente com os principais acontecimentos históricos que marcaram o panorama das artes plásticas no Brasil.
O fim do século XIX foi marcado pelo desenvolvimento de um sistema acadêmico e a construção de um imaginário nacional (em progresso até os dias de hoje e discutido como questão de identidade), que desempenhou um papel político fundamental na elaboração de uma imagem coerente para a nação emergente. Era a época dos grandes quadros históricos tão bem representados por Vítor Meireles na “Batalha dos Guararapes”, e por Pedro Américo em “A batalha do Avaí” e da nascente crítica de arte profundamente atenta e vivaz de Gonzaga Duque. 
Nas páginas do Jornal do Commercio personalidades ilustres como Machado de Assis, Euclides da Cunha, José de Alencar entre outros, realizavam participações que enriqueceram o dia-dia dos brasileiros. Nesse tocante, as artes plásticas e a literatura continuaram a caminhar lado-a-lado na alvorada do século XX, e o periódico pôde testemunhar o desenvolvimento do modernismo no Brasil através dos importantes eventos ocorridos na semana de Arte Moderna de 1922. Apesar de a Semana ter se concentrado num grupo de artistas e intelectuais oriundos de São Paulo, sua contribuição possibilitou a disseminação das ideias modernas, além de uma ruptura com o academismo do século anterior.
Em meados dos anos 60, outras mudanças sacudiriam o panorama das artes plásticas no Brasil. Notórios eventos políticos como a renúncia de Jânio Quadros e a consequente posse de João Goulart resultaram no Golpe Militar de 1964. Como resultado da repressão, censura e autoritarismo impostos pela ditadura militar, o campo das artes plásticas reagiu de duas formas: A primeira delas diz respeito a um comportamento mais conformista responsável por produzir uma revisitação à arte tradicional, e o segundo, diz respeito à adoção do binômio arte e vida. 
Mais do que nunca, a arte praticada no período funcionou como mecanismo de crítica sociopolítica e ferramenta de libertação. Essa desmaterialização da forma ganhou no Brasil contornos engajados que assinalaram o deslocamento da estética para o discurso político. Obras importantes como o “Porco empalhado” de 1966 de Nelson Leirner e a mostra Opinião 65, sacramentaram a busca por liberdade de expressão durante o tenso período.
Por volta de 1984, é realizada no Rio de Janeiro, Escola de Artes Visuais do Parque Lage a exposição “Como vai você, geração 80”, assinalando a reabertura política através do movimento “Diretas já”. Este evento ficaria caracterizado através de uma retomada da pintura como uma grande manifestação de liberdade e ludismo. Paralelamente, é preciso salientar a importante colaboração de críticos de renome como Walmir Ayala, para as páginas do Jornal do Commercio com a coluna “Artes Plásticas”, publicada desde o final da década de 70 até o início dos anos 90. O crítico, que sempre foi um agente importante na divulgação do caldo cultural formado nas periferias do Rio de Janeiro, certamente ficaria entusiasmado com as ações coletivas e com as intervenções urbanas realizadas pelo Imaginário Periférico na primeira década do século XXI. Além do mais, é experimentando os reflexos do pós-modernismo que se pode perceber a diversidade e riqueza de linguagens e poéticas que se desenvolvem simultaneamente no contexto atual. Grande parte dos artistas que participaram em algum momento desse movimento contagiante que se tornou o coletivo encontra-se, vez por outra, reunida em matérias que são semanalmente publicadas na página da CAZA do jornal do Commercio. Nestes 185 anos de existência, o jornal abre espaço para que essas manifestações possam aflorar, levando ao público em geral informações preciosas sobre as pesquisas estéticas mais recentes desenvolvidas em toda parte da cidade: centro, periferia, etc. E nesta longa jornada, o campo das artes plásticas brasileiro é que permanece ganhando.

Renata Gesomino.

Doutoranda pelo PPGAV-UFRJ, crítica de arte e curadora independente.

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