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  • sexta-feira, 27 de julho de 2012

    EDUARDO DENNE - No olho da Rua

    Obra de Eduardo Denne realizada para exposição PegueeLeve na Caza Arte Contemporânea em 2011


    A Rua para alguns é lugar perigoso, para outros é a própria casa .

    Foi na Rua que encontrei Eduardo Denne, não por acaso, mas com encontro marcado, informal mas marcado. Fui encontrá-lo trabalhando num mural na Rodrigues Alves por ocasião da Art Rio conversamos rapidamente, brinquei "sai da Rua vem pra CAZA".

    Ele veio para CAZA mas não saiu da Rua, pois é na rua que Denne melhor se mostra fazendo seus murais, colando seus stencils, ambientando festas ou tudo mais que lhe venha à cabeça.

    Denne tem alma de menino, desses que nunca deixam de ser menino. Gosta do fazer e leva a sério seu oficio. Seus sonhos são muitos, como de todo menino. Seus trabalhos refletem isso, chegando às vezes a parecer ingênuos.

    Não uma ingenuidade tola mas daquelas comuns aos meninos. Falo isso como ponto positivo, já que ninguém é tão ingenuo depois de tanto tempo na Rua, e Denne sabe tirar dela o que ela tem de melhor.

    um abraço


    Raimundo Rodriguez
    Artista plástico


    CAMUFLANDO IDEOLOGIAS
    Nova série de pinturas sobre colchões de Ligia Teixeira exibe o drama da exclusão social

    Mais do que tornar o ato de dormir confortável, colchões são objetos impregnados de simbolismo e memória, aconchegam nosso corpo e poderiam contar a história íntima de nossas vidas. O colchão é o lugar que em geral nascemos, fazemos amor e por fim, morremos.
    Homeless - Da série Camuflando Ideologias - 2012, Acrílica sobre colchão

    Para Ligia Teixeira eles são ainda mais. Não é por acaso que a artista, desde 2008 adotou o emprego de colchões usados como suporte para suas pinturas. Tanto a estamparia original do tecido e suas costuras, como os rasgos e as manchas amareladas pelo tempo, as marcas nele registradas pelo corpo, o furo queimado por um cigarro – tudo é matéria expressiva que se agrega à construção de novas narrativas. Nesse campo repleto de referências e memórias Ligia lança mão da imaginação para sobrepor personagens que vivem outras histórias.

    Sua série de colchões iniciada em 2008 tratou da condição humana refletindo o universo feminino em paixões que se revelaram pelo viés erótico. Nas obras, o pensamento figurativo traçado no universo do desenho e da pintura contesta a especificidade de cada um subvertendo os meios, juntando elementos estranhos, fragmentos e matéria para então fazer com que a pintura transborde na superfície em cores vibrantes.

    Herdeira da Combine Paintings de Robert Rauschenberg, a artista cria uma espécie de híbrido entre pintura e escultura explorando fronteiras entre a arte e o cotidiano. Suas obras se relacionam com a arte Pop e seu antecessor Dada no emprego do ready-made de Marcel Duchamp, transmutando colchões em tela. Na vertente mais contemporânea da arte o emprego de colchões para explicitar memórias íntimas provoca paralelos com a artista inglesa Tracey Emin, que compartilhou publicamente sua cama desfeita, rodeada por detritos, na galeria Tate Gallery.

    Na trajetória de Ligia Teixeira, o recente desdobramento de suas obras inicias apontam para questões de gênero num contexto social e político mais amplo, envolvendo a exclusão social, conforme a série Wanted, realizada em 2011, e agora em Camuflando Ideologias. Desse modo, seus antigos colchões, que serviam como metáfora e palco para sonhos e devaneios, passam a abrigar o incômodo daqueles que dormem à espreita, sem sequer poder sonhar.


    Jacqueline Belotti
    Artista, pesquisadora e professora da UFES


    LIVRO - Desconstrução como ponto de partida para a reflexão poética

    Algumas noções “grudam” no imaginário coletivo – transformam-se em cláusulas pétreas sempre invocadas quando se aborda o assunto a elas relativo. Quando se fala em fotografia, indubitavelmente vem à mente noções como a de “tempo congelado”, espelho da realidade, morte do fluxo.

    O primeiro livro da artista Patricia Gouvêa desconstrói essas noções como pretexto e ponto de partida para levar o leitor além da superficialidade, instigando-o a uma experiência com as imagens que estimule “a inteligência poética e a reflexão crítica e filosófica sobre o mundo.”

    Mestre em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ, a autora impregna todo o livro de uma visceralidade que retira a assepsia e impessoalidade que geralmente caracterizam os textos que se originam de trabalhos acadêmicos, permitindo ao leitor não especialista acompanhar o fluxo de seu pensamento no aprofundamento dos conceitos de forma segura.


    As imagens são pensadas como membranas, lugar onde os tempos se conectam, se interpenetram, inaugurando experiências, fazendo surgirem mundos. Através do conceito bergsoniano de duração, onde o tempo perde a aceleração pela presença do ser e pela ativação de memórias e desejos, a autora vai mergulhar no Tempo, conduzindo-nos a uma viagem sinestésica. Nessa viagem traz leituras sobre obras de diversos artistas, abordando-as como objetos complexos, pensando imagens da arte a partir delas mesmas.

    O livro é também uma obra poética, que guarda leitura densa e agradável, sem excessos, resultando útil não só a pesquisadores e profissionais da área, mas a todos que busquem ampliar o horizonte de suas percepções na fruição e compreensão do mundo através das imagens da arte.

    MEMBRANAS DE LUZ: os tempos na imagem contemporânea
    Patricia Gouvêa
    Azougue Editorial.
    Rio, 2011. 133 p.


    Eurípedes G. da Cruz Junior
    Museu Nacional de Belas Artes – Seção de Fotografia