sexta-feira, 27 de julho de 2012

LIVRO - Desconstrução como ponto de partida para a reflexão poética

Algumas noções “grudam” no imaginário coletivo – transformam-se em cláusulas pétreas sempre invocadas quando se aborda o assunto a elas relativo. Quando se fala em fotografia, indubitavelmente vem à mente noções como a de “tempo congelado”, espelho da realidade, morte do fluxo.

O primeiro livro da artista Patricia Gouvêa desconstrói essas noções como pretexto e ponto de partida para levar o leitor além da superficialidade, instigando-o a uma experiência com as imagens que estimule “a inteligência poética e a reflexão crítica e filosófica sobre o mundo.”

Mestre em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ, a autora impregna todo o livro de uma visceralidade que retira a assepsia e impessoalidade que geralmente caracterizam os textos que se originam de trabalhos acadêmicos, permitindo ao leitor não especialista acompanhar o fluxo de seu pensamento no aprofundamento dos conceitos de forma segura.


As imagens são pensadas como membranas, lugar onde os tempos se conectam, se interpenetram, inaugurando experiências, fazendo surgirem mundos. Através do conceito bergsoniano de duração, onde o tempo perde a aceleração pela presença do ser e pela ativação de memórias e desejos, a autora vai mergulhar no Tempo, conduzindo-nos a uma viagem sinestésica. Nessa viagem traz leituras sobre obras de diversos artistas, abordando-as como objetos complexos, pensando imagens da arte a partir delas mesmas.

O livro é também uma obra poética, que guarda leitura densa e agradável, sem excessos, resultando útil não só a pesquisadores e profissionais da área, mas a todos que busquem ampliar o horizonte de suas percepções na fruição e compreensão do mundo através das imagens da arte.

MEMBRANAS DE LUZ: os tempos na imagem contemporânea
Patricia Gouvêa
Azougue Editorial.
Rio, 2011. 133 p.


Eurípedes G. da Cruz Junior
Museu Nacional de Belas Artes – Seção de Fotografia


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