O Negro, de Luis Trimano |
A série de desenhos intitulada O Negro do ilustrador argentino Luis Trimano, concebida entre os anos de 1998 e 2001, revisita as fotografias do Português Christiano Júnior, produzidas no Rio de Janeiro do século XIX.
Composta de 32 desenhos em preto e branco, feitas com nanquim em bico de pena, pincel e caneta esferográfica sobre papel, nas dimensões de 1,00 x 0,80m, Trimano trabalha com imagens que ligam a história da arte e da iconografia, alcançando o espaço poético, através da exposição dessas imagens no Museu Nacional de Belas Artes (RJ), em 2005.
A produção dessa série específica surge a partir de uma visita ao Museu Histórico da Praça XV, local onde foi montada uma pharmacia de manipulação do século XIX e algumas salas onde foram mostrados objetos de uso cotidiano, como mobília, armas e ferramentas da época. Justamente numa dessas salas Trimano se depara com as fotografias produzidas por Christiano Júnior e fica interessado em analisar e trazer para a contemporaneidade um diálogo com as fotografias daqueles negros.
Nessa perspectiva, Trimano se coloca como aquele que olha para a cultura do outro como espectador, analista e relator do acontecido, que narra visualmente seu pensamento. O que ele e Christiano possuem em comum é esse olhar para a cultura negra. Olhares certamente diferentes, com representações e técnicas diferentes.
Para discutir essa história, essa sociedade e os tempos atuais, Trimano recorre à elementos visuais como bigornas, correntes, arame farpado e discute a questão do negro através de costuras, amarras, colagens e montagens presentes em seus desenhos. Trata-se de um trabalho de cunho antropológico que cria um diálogo entre fotografia, História da Arte e iconografia do corpo do negro, na cidade do Rio de Janeiro.
Nessa encontramos uma ponte entre os séculos XIX e XX, entre as fotografias de Christiano e a ilustração de Trimano. Olhares e reflexões que se encontram sob o aspecto crítico e artístico a respeito do negro na cidade do Rio de Janeiro. Em O Negro, Trimano revisita Christiano e traz para a contemporaneidade uma discussão sobre valores, poder e cultura.
Doutoranda em Artes Visuais PPGAV-EBA-UFRJ
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