sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

FOTOGRAFIA - Magno exercício do olhar


A fotografia tem, em mãos de bons fotógrafos, o poder de transformar o real sem, contudo, alterá-lo em sua essência, de tal modo que uma transcrição fidedigna de um objeto ou de um local pode adquirir um aspecto abstrato pela simples alteração da escala ou do ponto de vista. Da mesma forma, o que é infinitamente pequeno se confunde aos nossos olhos com o infinitamente grande, como as imagens do interior do corpo humano produzidas com o auxílio de microscópios eletrônicos se assemelham às astrofotografias realizadas com telescópios espaciais.

Na série de imagens abstratas que tem desenvolvido ao longo da última década Magno Mesquita explora com sabedoria essa peculiaridade da fotografia de modificar a percepção da escala na ausência de um parâmetro reconhecível capaz de nos permitir uma avaliação mental das dimensões do objeto focalizado. Consegue assim embaralhar as pistas e extrair beleza desde as grandes obras de arquitetura — desmembradas em suas partes mais expressivas, como peças de um quebra-cabeça vistas em separado do conjunto — como também em objetos cotidianos, como vidros de perfume, que passam a adquirir contornos oníricos quando observados extremamente de perto com o auxílio da macrofotografia.

Leonardo da Vinci propunha como exercício de criação a observação das manchas de mofo nos muros, para que os artistas aprendessem a extrair das menores e mais banais coisas, vislumbres de seres e universos insuspeitos. Ao estudar detidamente lanternas e faróis de carros com idêntica atenção, na série Lumínias, Magno Mesquita realizou idêntico exercício do olhar, extraindo da frieza dos elementos industriais imagens de um universo futurísco imaginário. Visões de um fotógrafo que tem olhos de ver e vendo, transforma aquilo que é visto.



Pedro Afonso Vasquez

Escritor, tradutor, fotógrafo e curador.

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