sexta-feira, 19 de outubro de 2012

EXPOSIÇÃO - E possível domesticar a perversidade?

Assuntina das Américas,
obra de Alexandre Przewodowski
  No intuito de materializar uma ideia, os artistas buscam o controle sobre a técnica e o domínio sobre materiais. É possível ver, na individual de Alexandre Przewodowski, a luta do homem com a natureza – sua própria e a dos materiais.

Nos quebra-cabeças, feitos de palitos de fósforo usados, há dois temas. Ligados à sexualidade, há um trabalho com a imagem de um filme, onde uma pessoa cobre o rosto com uma máscara de sadomasoquismo; em outro, imagem de revista pornográfica de homem masturbando mulher. Os outros dois retratam revoltas: palestina e tibetana.

As máscaras de metal foram moldadas em estátuas públicas e resultam de procedimento de força. Em objeto-afetivo, uma forquilha invertida, um elástico feminino de cabelo e borracha apaziguam as tensões entre masculino e feminino. A afetividade, tensionada, está em outros objetos: o azulejo com imagem de transferidor (afeto e controle); a escultura que parece um cachorro onde o rabo se assemelha a um pênis (fofo e perverso); a base de furadeira com sementes (violência e beleza); a escultura de módulos arredondados, que pode ser erigida como se quiser (controle e descontrole).

A madeira dos trabalhos é de reaproveitamento. No móvel que balança e as gavetas abrem, há subversão da funcionalidade, a madeira, originalmente extraída para fazer móvel, é transformada em arte, forma e função desassociados no processamento da madeira (natureza) em móvel (utilitário) e em escultura (indefinível). No carrinho de mão e areia, esta foge ao controle, ultrapassa os limites: impedimento e descontrole. Semelhantemente, as réguas que mantêm a forma dos galhos não servem para medir. As tentativas de encontrar função perde-se na pseudo-oscilação entre a natureza selvagem e a racionalidade do homem, pois as duas são uma só.

Nos materiais e nos procedimentos, nas escolhas e nos aparecimentos das imagens, no fazer artístico e no viver, a natureza se impõe, e a arte não domestica coisa alguma.


Exposição Pesos e Medidas, de Alexandre Przewodowski. 
Até 31 de outubro de 2012, visitação de segunda a sexta-feira das 10 às 18h.
Galeria Manuel Bandeira, Academia Brasileira de Letras (ABL), Avenida Presidente Wilson, 231 - Castelo - Rio de Janeiro.



André Sheik

Artista plástico, músico e poeta.

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