sexta-feira, 17 de agosto de 2012

LINHA APARENTE - A linha, em seus múltiplos pontos de vista

Tomando como parâmetro inicial a definição de horizonte como “linha aparente ao longo da qual, em lugares abertos e planos, observamos que o céu parece tocar a terra ou o mar”, Raphael Fonseca propõe uma aproximação entre trabalhos de 11 artistas na Sergio Gonçalves Galeria. Mais do que uma tentativa de abordar variações contemporâneas para o gênero ‘paisagem’ (embora a visita à mostra não elimine de todo essa suposição), o curador pretendeu extrapolar uma compreensão corrente que atribui à linha o papel de contorno, de delimitação visual para as coisas, restringindo-a ao plano do desenho. Através do conjunto exposto procurou então reforçar uma abordagem não convencional para o tema (uma vez que a ideia de linha nem sempre está aparente na arte), reivindicando seu papel como elemento constituinte e definidor do espaço.

Daniela Seixas - "Horizonte" - 2009

A problemática principal proposta pela curadoria encontra-se justamente no conflito entre a tentativa de propor uma dilatada pluralidade de horizontes possíveis (imagéticos, conceituais, formais e livre-associativos), sem que isso venha a comprometer a aproximação entre os trabalhos selecionados: ou seja, a apresentação de um recorte plural que possa ser apreendido a partir de uma mesma perspectiva (embora negue qualquer leitura unilateral), ao risco de a exposição não sustentar uma real aproximação semântica entre as diferenças propostas. Assim, constituídos nas mais diversas linguagens (desenho, vídeo, fotografia, pintura, impressão, etc.), esses trabalhos insinuam um grande número de acepções para a palavra ‘linha’, partindo de sua presença literal enquanto desenho, limite e ideação, passando por aproximações visuais, nas noções de “pauta” e “horizontalidade”, a outras mais alusivas como nas expressões “linha da vida” e “timeline”.

“Linha aparente” representa, enfim, a tentativa de estabelecer um “novo horizonte”, que possa ser tão vasto a ponto de oferecer múltiplos pontos de fuga ao espectador. Sob alguns aspectos, certos trabalhos acabam mais favorecidos do que outros, não por sua localização expográfica específica – há também que se considerar as características espaciais da galeria, dividida entre térreo e mezanino –, mas pelo modo como se potencializam numa visão em conjunto tanto quanto numa apreensão individual. Talvez, nesse sentido, reforcem a sensação de que a exposição pode pecar por seus excessos. Contudo, é preciso lembrar que toda linha nada mais é do que a soma de uma multiplicidade de pontos. Um horizonte que possa abarcar tamanha complexidade só pode ser a projeção de um mundo ideal.


Ivair Reinaldim
Curador e atua como professor de história e teoria da arte.

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