sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ARTIGO - A Construção de uma Nação

Esta foto – Encontro com Mme. Pogany é um trabalho feito dentro do MAM, no dia da lembrança de 30 anos do incêndio que devastou seu acervo. Eu, um adolescente do subúrbio, estava lá, chorando, em frente daqueles tesouros que só havia visitado uma vez.


Autorizado pelo saudoso Reynaldo Roels, diretor do museu e depois de três anos para conseguir a liberação dos herdeiros de Brancusi, finalmente consegui tirar esta foto ( clicada por André Arruda ), onde eu celebro meu encontro com a única obra que tinha lembrança de ter visto antes do sinistro e por acaso, uma das poucas que sobreviveu. Este reencontro com minha própria história deveria ser um símbolo do fechamento de um capítulo de nossas sinas. Mas infelizmente, outras tragédias se seguiram e atônitos mais uma vez, só nos restou rezar por menores perdas.

Tragédias são involuntárias, atingem àqueles que zelam pela história e a cultura do país, pois nossas instituições em maioria, nem são capazes de serem melhores depositários de nossa herança. Além disto, as classes abastadas brasileiras, com raras exceções, ainda não enxergam seu compromisso com a construção da história de nosso país !

As grandes fortunas americanas do Séc. XIX, nascidas da revolução industrial só passaram a serem aceitas na sociedade americana da época, onde ainda ecoavam tradições aristocráticas inglesas, depois que o New Money, passou a doar grandes quantias para os museus americanos. Assim, nomes como Rockfellers, Rothschilds, Vanderbilts, Carnegies, Astors, Gettys, DuPons, etc ... deixaram de ser interioranos ou irlandeses sem berço, para se firmarem como filantropos nas artes e nomes de respeito.

Esta tradição, de raízes européias, de um tempo que aos ricos – nobres ou burgueses, só restava deixar uma marca no futuro através das artes, continua sendo uma regra, como nos brinda agora, a vinda da Fundação Daros, da família suíça Schmidheiny.

E com mais de um século de atraso, a sociedade brasileira, agora similarmente rica, começa devagar, a descobrir seu papel social em devolver algo ao país do qual tira sua riqueza. Coleções privadas se tornam museus públicos, passam a circular em exposições, ficam em comodato em instituições, muitas vezes como seu acervo principal.

Mas isto ainda é muito pouco, em geral fruto de genuíno amor às artes, por que não há em nosso lastro social a noção de grandeza de passar à história de um país, por ajudar a edificá-la, culturalmente. Precisamos de um reposicionamento de valores para que aqueles que detêm o poder financeiro saibam que só há um lugar no futuro para a fortuna que constroem - socializá-la democraticamente ampliando a cultura e o bem estar da nação.

Quando for tão importante para empresários e grupos, apoiar a cultura, com o mesmo foco que se patrocina uma equipe de futebol, um show de rock ou o carnaval, poderemos sonhar com um país pleno e com um futuro de ponta entre grandes nações. Futuro de que tanto pleiteamos, mas que não pode ficar restrito a commodities que um dia terminarão e a glórias, que a cada torneio mudam de mãos.

Arte é um valor perene, portanto um grande investimento para quem faz e quem recebe !

Artigo Essencial Arte Urbana é um festival de arte que vai tomar conta do Rio em Outubro.


Alexandre Murucci
Curador e realizador do festival

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