sexta-feira, 1 de junho de 2012

REFLEXÃO - Processo Criativo



Sempre que preciso escrever sobre o meu trabalho as primeiras coisas que me suscitam são meus momentos no atelier, seja lá onde ele for. Antes de ser artista sou pintora, desenhista antes de tudo. Foi assim meu caminho: imagem, solidão e processo. O atelier é o mundo e meu quarto, mas é solidão em primeiro lugar. E qual o propósito?

A pintura é uma prática reclusa. O pintor é um artista que trabalha com uma linguagem plástica; necessita de treino, necessita de arte. Assim são as minhas experiências, um enfrentamento do meio como cor, superfície, matéria, química, cheiro, textura... O que tenho hoje em meu atelier-residência é crise, a entressafra da mudança. É um momento feliz. Aqui tem batalha, tem criação, tem destruição.

Quero expor uma idéia que sempre me acompanhou: a vontade de pintar numa ação positiva. A pintura aqui é toda a sua história. Sendo assim, não é crise, ela não é submetida, ela reina. Assim desenvolvi as minhas primeiras séries. A imagem é posta a serviço dos acontecimentos

do processo. A condição desta imagem é utilitária, existe em função de um ritual plástico. Ou seja, a imagem como pretexto para uma coleção de procedimentos técnicos e embate de fenômenos plásticos. No entanto, ao mesmo tempo quero que esta imagem seja rica produtora de sentidos, que se dilua ou apareça produzindo contrastes. Que seja curiosa, que seja uma imagem interessante.

Ainda nestas primeiras séries a imagem não se define completamente abstrata, mas origina formas quase reconhecíveis, que transitam entre figuras orgânicas predominantemente e estruturas inorgânicas. No processo uso tinta diluída, cores terrosas e algumas poucas vibrantes, muitas transparências e veladuras.

A série de pinturas e desenhos que se encontra em processo hoje no meu atelier possui, dessa vez, um acréscimo na carga narrativa. Agora tenho figuras, e estas são colhidas de qualquer mídia, principalmente a internet. Os motivos prosaicos constatam, são a presença da vida, do banal. E o que se constata é o instante, há muito pouco para além deste. A pintura acrescenta vibração ao momento. É ela que deve provocar em sua primazia os transbordamentos semânticos.

A passagem de um tema para outro na minha pintura no momento me parece um pouco traumática. Muito da pesquisa anterior se perde. A nova série vem trazendo novos problemas artísticos. Se algo se perdeu, a vontade maior e primeira da ação positiva ainda guia a pesquisa.


Maria Helena Bastos
Artista representada pela Caza Arte Contemporânea


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