sexta-feira, 29 de junho de 2012

OSVALDO CARVALHO - Isto é arte?


Em Trânsito, reúne intervenções de Osvaldo Carvalho em áreas de circulação do Tribunal de Contas da União, um complexo institucional com suas passagens, empenas, praças e jardins em Brasília. No fluxo interno de circulação, que reverbera o funcionalismo da cidade modernista, Arte Escorregadia – objeto que simula o aviso de risco de queda em caso de piso molhado – provoca inesperado acidente poético. Mimetizando a sinalização padronizada, mas referindo-se à possibilidade de deslizamento provocada pela intervenção artística, o aviso reporta a todo o campo da arte, onde as chances de um percurso seguro e estável são remotas. Sua presença é complementar à pintura no asfalto da pista de acesso aos visitantes em que se lê: DEVAGAR ARTE CONTEMPORÂNEA. A velocidade ou a indiferença em relação ao tempo da experiência pode transformar o encontro com a obra em um verdadeiro desastre em que se perde sua capacidade de transformação.

Em Trânsito (que dá nome a todo o projeto), uma série de placas junto à própria sinalização viária do TCU, reitera indagações sobre a arte, formuladas por críticos, curadores e artistas que em sua trajetória não puderam escapar ao desafio implicado em sua prática. Todas, e especialmente algumas como Isto é uma obra de arte? e Qual é o lugar da arte?, são perguntas sem respostas definitivas, instigações recorrentes, sem a expectativa de resolução do problema.

Legendas da Arte, um lambe lambe em que a foto do artista recebe a legenda “sua ideia será copiada resistir é inútil” profere mais uma vez a impossibilidade de resistência do original frente à cópia. Mesmo a reprodutibilidade, discutida por W. Benjamin, seria insuficiente para uma crítica contemporânea da cópia. Além da menção à apropriação, ferramenta já habitual na arte contemporânea, o trabalho aponta para que a identidade, seja a do artista, aqui apresentada, ou a de qualquer indivíduo, por ser fortemente associada à sua imagem, é um efeito de superfície, suscetível de descolamento e rasura.

Notas de Rodapé dissemina possíveis respostas a indagações como as de Em Trânsito. Porém a variedade de definições da arte nestas notas: um produto da imaginação, tudo que é contra, o que está em museu, um absurdo, as mantém em aberto. Em locais pouco visíveis, nos rodapés (jogando com o sentido literal do título) as frases comentam a condição da arte contemporânea justamente naquilo que dizem além da frase. Um texto a princípio pouco evidente, que vai sendo reiterado em cada intervenção de Osvaldo Carvalho no TCU.

Um painel monumental externo, versão do bem humorado teste popular para cegueira substitui a “causa” da falta de visão por outra, não por acaso, a arte. Ao jogo ótico da piada já banalizada é somado um efeito colateral, uma resposta complementar à pergunta aqui recorrente. Não seria a arte aquilo que frequentemente não se vê?


Em Trânsito
Espaço Cultural Marcantonio Vilaça
Tribunal de Contas da União
SAFS quadra 4 lote 1 Brasília – DF
Visitação até 3 de agosto (aberto todos os dias)
Das 8 às 18h


Luiza Interlenghi
Doutoranda em História e Crítica no PPGAV - EBA – UFRJ


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