sexta-feira, 15 de junho de 2012

MARCELLO VITIELLO - Plataformas Poéticas

Plataforma III, 2012

Plataforma IV, 2012
Desde 2004, o pintor autodidata Marcello Vitiello vive e pinta entre a terra e o mar. Quinze dias reside em Macaé, sua terra natal. Quinze dias mora numa plataforma de petróleo, onde trabalha como fiscal de operações. Os temas de sua pintura abrigam tanto o repertório das paisagens, becos e ruas de Macaé, assim como as plataformas de petróleo, que hoje são tema recorrente em sua obra. Água, óleo, máquinas, tubulações fazem parte de um universo aparentemente inóspito, e compõe a natureza singular presente nas pinturas de Vitiello, especialmente na serie Plataformas. Seu método de trabalho nesta serie modificou sua forma de trabalhar as telas. Nos intervalos de sua jornada de afazeres, ele costuma parar para fotografar imagens e recortes que ele irá, posteriormente, pintar. Como ele próprio diz: “Pretendo pintar estas paisagens não de uma maneira de mera reprodução, mas para mostrar a atmosfera difícil e árdua do local com uma plástica visual particular”. A pintura deste artista revela, paradoxalmente, uma poética que visa o acolhimento, apesar do ambiente desolador das plataformas isoladas no oceano. A ideia da serie surgiu do contraste entre, a atmosfera azul do mar, com as pinturas das tubulações e luzes artificiais das plataformas. Vitiello declara: “que algo nesse ambiente de ilha” o incomodou e o fisgou com uma vontade de ação e criação. É importante notar, que o artista, também é um admirador de Edgar Allan Poe e de literatura fantástica. Assim como Poe, Vitiello reflete o simbolismo “da água”. Mas, as águas do pintor não são as mesmas “águas” do escritor. Suas “águas” pictóricas vibram no azul do inesperado mistério, que surge, no olhar do homem que frequenta uma ilha. Há uma prevalência do azul em suas telas, cor e presença marcante de um oceano forjado em cores fortes, enérgicas e luminosas.

As estadias do artista em alto mar compõe um diário de viagem peculiar. Nas telas vibrantes desse diário percebe-se uma amorosidade ontológica pelos lugares, em especial, o ambiente confinado das plataformas – a ilha possível, composta por ferragens, reflexos e cores.


América Cupello
Fotógrafa, curadora e pesquisadora independente. Doutora em Artes Visuais pelo PPGAV – UFRJ.



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