sexta-feira, 22 de junho de 2012

EXPOSIÇÃO - "Aterro no Flamengo" e a impossibilidade de obsolência da arte

A partir da segunda metade do século XX, começava a aparecer no meio intelectual uma série de autores preocupados em definir a sociedade tecnológica ou pós-industrial como é o caso de Daniel Bell e David Harvey, por exemplo. É certo que tal movimento foi impulsionado pela percepção de um estágio “diferente” das etapas de produção e consumo, nunca antes visto ou sequer imaginado, em toda história da civilização humana.Nesse contexto é correto pensar, por um lado, no atual momento pós-moderno como a era do ápice da obsolescência.

Desenhos Heterodoxos de Artur Barrio

Aprofundando uma reflexão sobre o vasto universo de objetos que são depositados no mundo diariamente e tendo em vista este contínuo processo que provoca um efeito ou sensação de aceleração permanente do tempo, é possível analisar o conjunto de obras que foram selecionadas e estão presentes na exposição “Aterro no Flamengo: O resto é arte!”.

Partindo de processos múltiplos de ressignificação de objetos descartados - mais vulgarmente (re)conhecidos como lixo e/ou sucata é que se pôde colocar lado-a-lado uma geração de artistas que há algumas décadas trabalham de maneira pioneira e criativa com todo tipo de material reutilizável, descartável, “não-nobre”, sustentável, entre outras definições comumente encontradas na crítica contemporânea mundial.

Colagem de Raimundo Rodriguez
De fotos, latas, lonas, sacos, papelão, isqueiros, desenhos, rabiscos, entre outros, apreende-se um ambiente heterogêneo em que o material descartado passa a ser material resgatado, corpo plural e ambíguo de poéticas visuais riquíssimas, que vão desde as anamorfoses de Vik Muniz, que deslocam o olhar recuperando um teor estético perdido até as colagens místicas – essência delicada dos ex-votos de Raimundo Rodriguez, capazes de conservar um aspecto transcendental e oculto a partir do rejeito e de sua fragmentação.

Essas obras, até certo ponto inusitadas, que emergem de um caos cotidiano, quase imperceptível e acima de tudo pautado na lógica da obsolescência, exemplificam uma parte da produção da arte contemporânea brasileira afirmando seu alto rigor estético, técnico e experimental. Obras de artistas veteranos e consagrados como Artur Barrio, Anita Fiszon, Aston, Cristina Canale, Deneir, Edmilson Nunes, Jarbas Lopes, Jorge Fonseca, Leo Battistelli, Marcos Cardoso e Quenum, completam a mostra provocando as mais variadas sensações e reações no observador ao humanizar o olhar, reconduzindo-o em direção a outras possibilidades e apropriações em que os restos não são senão arte.

A exposição “Aterro no Flamengo: O resto é arte!” Está em cartaz na Galeria Coleção de Arte de Luciana Conde no endereço, Praia do Flamengo, 278, térreo. A exposição pode ser vista do dia 16 à 29 de junho de 2012.


Renata Gesomino
Crítica de arte e curadora independente. Doutoranda pelo PPGAV-UFRJ.




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