sexta-feira, 20 de abril de 2012

MOSTRA - As doze engrenagens de um Moto-Contínuo

Bernard Pras
Velocidade inebriante a partir de uma aceleração permanente. Direções variadas que anunciam uma trajetória ilógica. Das engrenagens complexas de uma máquina que se alimenta de sua própria energia, criam-se forças aliciadoras do espaço-tempo.

Fragmentação, antiforma, diferença e esquizofrenia: essas são algumas definições que caberiam perfeitamente sob o rótulo confuso e talvez incerto da pós-modernidade.

O tempo presente agora abarca a lembrança de todos os tempos, e nesse pluralismo ansioso soerguem-se os pilares de civilizações passadas e futuras.

A contemporaneidade carrega traços de uma máquina aperfeiçoada, sobretudo, a partir de um racionalismo modernista, estendendo seus tentáculos polimorfos para além dos propósitos universais. Ouve-se um estrondo logo abaixo de sua superfície disjuntiva e então se torna visível toda magnitude da máquina propulsora: um verdadeiro Moto-Contínuo.

Pautados numa concepção pós-moderna de movimento, indeterminação e pluralismo, doze artistas contemporâneos foram selecionadas para compor os dispositivos de uma máquina hipotética. Alguns desses artistas apresentam linguagens tão variadas que acabam por assumir partes autônomas do “motor” criado pela arte contemporânea.

A aceleração ou velocidade vertiginosa fica por conta das pinturas quase “neofuturistas” de Eduardo Ventura. O artista desenvolve uma pintura ambígua e veloz como o grafitti, capaz de conciliar paisagens solitariamente estáticas que são subitamente atravessadas por vultos imprecisos, típicos da aceleração hiperbólica do cotidiano.

A superfície do dispositivo Moto-Contínuo poderia ser recoberta pelas planícies coloridas de Raimundo Rodriguez. Construídas com latas, tais planícies são verdadeiros campos de cor. As cores das latas são então refletidas e reconstruídas a partir do caleidoscópio onírico multifacetado e dinâmico, exemplificado pelas anamorfoses do artista francês Bernard Pras. O “Moto-Contínuo” converte-se, dessa forma, em um título e um conceito por trás da exposição homônima que inaugura as atividades da mais nova galeria de arte contemporânea, localizada no corredor cultural carioca. Situada na Rua do Rosário, nº 38, a Sergio Gonçalves Galeria foi inaugurada, com promessa de sucesso, no dia 14 de Abril, apresentando as peças de seu moto-contínuo com a participação de Bernard Pras, Eduard Moreno, Carlos Aires, Bill Beckley, Carlos Araújo, Laura Michelino, Manfred Leve, Eduardo Ventura, Raimundo Rodriguez, Carlos Vergara, Daniela Seixas e Clarissa Campello, contribuindo para um importante intercâmbio cultural e enriquecendo ainda mais o circuito das artes plásticas do cenário carioca.


Renata Gesomino
Curadora e crítica de arte independente. Doutoranda pelo PPGAV-UFRJ.


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