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  • sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

    EXPOSIÇÃO - Antes do Fim do Mundo

    Pássaro Afro-brasileiro - 
    Ricardo Pereira, cerâmica ,
     30 X 41,5 cm, R$ 300,00.
    Em outro momento, nesta página, antecipei a efervescência em que se encontra a arte no Rio de Janeiro. Salientei então o papel dos artistas como atores, não coadjuvantes, mas principais, de uma cena cultural que só veio a ganhar com os acréscimos dados por eles no que se refere às ações marcantes tanto no campo gerencial como logístico, na idealização e execução de projetos de grande porte e também empresariais e de autogestão.


    Série "Desenho Sem Fim" 
     Isis Quaresma
    lápis de cor s/ papel ,
     21 x 29,7 cm, R$ 300,00
    Mas o que quero chamar a atenção é para as mobilizações de circuitos, espaços e ateliês de arte que neste final de ano promovem suas pequenas “feiras” de arte, como é o caso, por exemplo, do Circuito Oriente em Santa Teresa que dia 19, quarta, a partir das 17h até as 22h, estará promovendo o evento Until the End of the World – Antes do Fim do Mundo, uma sacada de marketing muito espirituosa e que brinca com o zunzunzum de que o mundo acabará dia 21 de dezembro segundo o calendário Maia. Seria, portanto a oportunidade de realizar um último desejo: possuir uma obra de arte. Com preços variando entre 300 e 3000 mil reais os espaços Canto da Carambola, Estudio Dezenove, Ateliê Oriente, Espaço Eu Vira e Casalegre receberão a participação especial dos artistas da CAZA Arte Contemporânea e estarão juntos vendendo suas obras.

    Brasil - Jefferson Svoboda 
    porcelana policromada ,
     25 cm de diâmetro , R$ 180,00
    Vale a pena conferir e adquirir um mimo diferenciado. Afinal, vai que o mundo acaba mesmo?

    Canto da Carambola: Rua do Oriente, 123 tel.: 2210-0289
    Estudio Dezenove:Travessa do Oriente, 16a tel.: 2232-6572
    Ateliê Oriente: Rua do Oriente, 414 tel.: 3495-3800
    Espaço Eu Vira: Rua Aarão Reis, 16a tel.: 9884-8205
    Casalegre: Rua Monte Alegre, 







    Artista visual, mestre em poéticas visuais pela ECA-USP, curador independente e sócio do Espaço Eu Vira

    LANÇAMENTO - Sonho pra fazer e faço: o sonho e a criatividade


    Livro “A Casa da Flor - Tudo caquinho transformado em beleza”


    Neste ano a Casa da Flor completa cem anos. Gabriel Joaquim dos Santos, autor e solitário morador desde 1912, viveu nela até falecer em 1985.

    Nasceu ele em 1892. Seu pai tinha sido escravo e comprou um terreno no Vinhateiro, município de São Pedro da Aldeia. A família- pai, mãe (era uma índia) e doze filhos- mudou-se para lá. Os irmãos trabalhavam na roça. Um deles era carpinteiro e as mulheres faziam cerâmica. Não freqüentaram escolas porque não as havia no local, espécie de gueto onde moravam os negros pobres. Aos vinte anos, resolveu viver sozinho, num claro processo de individuação, de crescimento. Levantou primeiro um quartinho ao lado da casa dos pais. 

    Em 1923 sonhou com um enfeite na parede de seu quarto. Ao acordar, resolveu seguir a inspiração. Mas como fazer? Não tinha os recursos para a empreitada. Encontrou uma única solução: apanhar no lixo objetos quebrados, restos de construções locais, lâmpadas queimadas e tudo aquilo que não servia para mais nada. A partir de então continuou a criar enfeites seguindo os sonhos e os seus devaneios quando se recolha à noitinha para dormir.  Muitas flores, mosaicos, esculturas foram sendo criados e aplicados nas paredes internas e externas da casa, no muro que a circundava e na escadinha que leva até ela. Ele mesmo estranhava seu processo de criação e dizia: ”Não sei o que tenho com os cacos: quebra um prato, fico tão contente que me dê um caco, depois vou transformar o prato numa flor. Fico tão satisfeito”.

    Impressiona sua obstinação em seu projeto de embelezamento de seu lar durante sessenta e três anos, até morrer, sua integridade enquanto artista, sua inteireza, sua honestidade, apesar de todos os preconceitos com que teve que lidar: era negro, pobre, analfabeto, filho de um escravo e de uma índia e trabalhava com o lixo, com tudo aquilo de que ninguém quer saber! Era visto na comunidade e na família como louco, um “fraco das idéias”. Um comportamento tão sem sentido, novo, diferente, absurdo!  Hoje,  a reciclagem é aceita e até estimulada por todos mas na década de 20 era espantoso, digno de repulsa. Meditava sobre o que lhe acontecia: “Isso não é só de mim! Deus me deu coisa pra fazer que vem um aviso, vem aquela coisa no sentido, no sonho, que eu faço!” ”Aí tem um mistério na minha vida que eu mesmo não posso compreender!”” Isso é coisa do espírito...isso é coisa que já vem, é pessoa que já nasceu pra essas coisas!” E conclui: “A casa depende do espírito, é uma casa espiritual!  Eu não tive mestre, eu não tive escola, aprendi no ar, aprendi no vento!”


      “A Casa da Flor - Tudo caquinho transformado em beleza”
      Lançamento dia 20/12/2012, às 18h
     Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, à rua do Catete, 179. 
    Trechos das entrevistas com o artista, noventa fotografias, uma análise de seu trabalho e depoimentos de intelectuais formam o corpo do trabalho.

      

    Amelia Zaluar

    Professora, autora da pesquisa sobre a Casa da Flor e de outras manifestações da Arte e do Artesanato Fluminense, fundadora e diretora do Instituto Cultural Casa da Flor.