sexta-feira, 4 de maio de 2012

FLAVIO COLKER - Fotografia e gesto iconoclasta

O gesto, o fragmento e o fluxo são eventos de uma temporalidade não cronológica, mas também, peças-chaves na poética fotográfica de Flavio Colker. A obra desse artista percorre a potência da fotografia e revela ao espectador atento, um campo aberto às fabulações e aos mais diversos deslocamentos. O artista destaca de sua vasta experiência, a importância da intenção, e do gesto permeado pela sensação de incompletude e impermanência. Na era das frações de segundos e dos saltos quânticos o fotógrafo se depara com gestos que dão conta de um tempo latente e fugidio.A respeito do tempo-espaço do fotográfico Colker declara: "a velocidade também é um ambiente em si".

Flavio Colker

Enquanto muitos artistas produzem fotografias em series temáticas, Flavio Colker prefere navegar no fluxo, uma atitude iconoclasta com certeza. Este fato encantador personifica uma poética que se aproxima do estilo "on the road", pois o fotógrafo vive e atua entre as estradas do México e as do Brasil, sua terra natal. Suas fotografias estiveram presentes na ArtRio 2011 e podem ser vistas no site (www.flaviocolker.com) e na galeria Largo das Artes, no centro do Rio de Janeiro. Percebe-se nas poéticas contemporâneas, na qual incluo a obra de Colker, uma fotografia que percorre caminhos que se constroem à medida que são vivenciados. Estes caminhos sugerem uma viagem para além das categorias fotográficas e em consequência dessa opção, são percorridas trilhas arriscadas que acessam, em vez de calmarias, abalos aos velhos paradigmas. Na imagem intitulada "Horizonte sem noção" que acompanha o texto percebe-se uma insólita paisagem-árvore invertida. Esta intrigante imagem remete ao cosmo dual da árvore; uma matéria-origem que cresce tanto na direção da terra como do céu. Mas importante, esta imagem remete á própria natureza invertida da fotografia, entidade fronteiriça por excelência.

As imagens de Flavio Colker parecem conduzir à viagem tão esperada e, ao mesmo tempo, tão fugidia. A viagem que esta na "próxima" imagem, aquela que o fotógrafo deseja no acalentado momento vindouro. Gera-se com este movimento uma espécie de espera. Espera essa, que o artista tenta alongar ao máximo, no seu laboratório afetivo do tempo. Talvez essa expectativa, esse percurso desejado pelo fotógrafo seja o próprio gesto que pressente, entre as imagens - aquelas ainda não reveladas.


América Cupello
Fotógrafa, curadora e pesquisadora independente.Doutora em Artes Visuais pelo PPGAV – UFRJ


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