sexta-feira, 4 de maio de 2012

AÇOS PLANOS - Homenagem A Fiúza: A materialidade bruta dos quadros-objetos galvanizados.

Fiuza na Galeria Espaço Imaginário, em 2010
Aços planos.

A frieza metálica das chapas galvanizadas é travessada por retas horizontais e verticais. E, a certa distância nota-se a criação de um universo plástico composto por listras. Projetam-se em uma espécie de “quadro-objeto” cores predominantemente primárias, muitas vezes, provocando contrastes visuais intensos, puros, simplificados em formas racionais.Essa forma dominante parece sugerir também um conjunto de coordenadas, pois são marcadas pela contínua repetição de um paralelismo de retas imperfeitas que expõem toda a resistência do material bruto encontrado nas chapas de aço, alumínio, zinco, etc.

Há irregularidades na superfície fria do metal manipulado. De perto é possível ver os detalhes sobre as listras e áreas de cor: uma costura improvável feita de arame queimado. E neste cenário ambíguo feito de flexibilidade e resistência, residem virtudes que foram extraídas do campo da pintura e da escultura, simultaneamente.

O artista plástico de Fragoso, distrito de Magé na Baixada Fluminense, João Fiúza, tem construído seus “quadros-objetos” a partir de longas pesquisas com materiais oriundos da construção civil. Inaugurado uma dialética da materialidade bruta, Fiúza enriquece suas obras com cores provocantes, mergulhando a sobriedade das chapas prateadas num oceano de profusão cromática. Com esta vasta coleção de obras pautadas na variação de cores primárias, brilhantes e chapadas, feitas a partir das sobras de latas de tinta, solventes, vernizes, rolos de pintura, etc., Fiúza nos oferta com objetos concretos, que espelham geometricamente a sua própria força interior.

O artista, que chegou a trabalhar durante muitos anos no processo de montagem de painéis de publicidade feitos manualmente (outdoors) e com chapas de alumínio galvanizadas retirou desta experiência singular, e, também do seu conhecimento na área da construção civil, as fortes referências poéticas que definiram a sua escolha por um material quase indomável.

Por etapas, as latas e chapas galvanizadas são abertas, planificadas e costuradas com arame queimado, técnica amplamente desenvolvida pelo artista, que ao tecer “telas” incomuns, produz novos suportes que enriquecem ainda mais o universo plástico das pinturas e paralelamente, afirmam uma materialidade que parece querer se projetar no espaço tridimensional.

Os “quadros-objetos” de Fiúza quase sempre se remetem a uma construção formal que poderia estar ligada a movimentos desencadeados pelo Abstracionismo Geométrico, como o Suprematismo ou o Neoplasticismo e a artistas como Barnett Newman e Eduardo Sued, por exemplo. Nesse tocante, é possível perceber a relação simbiótica entre o universo racional e o universo sensorial que permeia toda obra de Fiúza. Nas suas telas feitas de chapas de alumínio zincadas há o testemunho de seu trabalho manual, a marca honesta de suas mãos, o peso sincero de seu gesto, o ato lúdico de desamassar, a singularidade do pesponto, transforma-se numa ação cadenciada associada a uma força inabalável de um artista completo, operário incansável a serviço da arte.

Renata Gesomino
Crítica de arte e curadora independente. Doutoranda pelo PPGAV-UFRJ.


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